Em um ensaio clínico com 30 pessoas, a substância, conhecida como MVA-B, melhorou a resposta imunológica de 90% delas. E o melhor: os efeitos do antídoto permaneceram no organismo dos participantes por até um ano. Embora os testes ainda estejam na fase inicial, são os mais promissores, até agora, em relação à durabilidade do remédio no corpo humano. Outra vantagem do método é que ele não provocou reações adversas nos voluntários.
Os pesquisadores do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha estudam o MVA-B desde 1999. Esse vírus foi isolado na Índia e serve até hoje como modelo para a criação de vacinas contra várias doenças, entre elas, a varíola. Para o antídoto contra o HIV, os especialistas usaram a “carcaça” desse vírus e introduziram quatro genes da Aids — Gag, Pol, Nef e Env.
“O MVA-B funciona como um veículo, no qual o vírus do HIV entra de forma atenuada no organismo humano”, explica o virologista Enrique Argañaraz, da Universidade de Brasília (UnB). Em 2008, a eficácia da técnica foi comprovada em uma série de testes clínicos com camundongos e macacos. O sucesso dessas experiências motivou a administração da vacina em humanos.
Durante os ensaios, 24 voluntários receberam o antídoto que continha o MVA-B, enquanto seis ganharam placebo. A substância foi administrada em três doses, por via intramuscular, ao longo de 16 semanas. Os efeitos duraram até a 48ª semana.
“O MVA-B demonstrou que é tão potente ou até melhor do que outras vacinas atualmente em estudo”, comemorou, em entrevista coletiva à imprensa, Mariano Esteban, pesquisador do Centro Nacional de Biotecnologia e responsável pelo desenvolvimento do composto. Os testes foram realizados com a colaboração de médicos do Hospital Clínico de Barcelona e do Hospital Gregorio Marañón, de Madri. Os resultados estão descritos nas revistas especializadas Vaccine e Journal of Virology.
Vitória
A equipe que conduziu os estudos ressaltou que o MVA-B é seguro e que seus efeitos são comparáveis aos que atingem pessoas que tenham sido imunizadas contra qualquer outra doença. “Não houve nenhum efeito adverso que comprometeu a saúde dos voluntários”, garantiu a jornalistas Juán Carlos Quirós, do Hospital Gregório Marañón. A permanência da vacina no corpo dos participantes também foi exaltada pelos cientistas. “A substância induziu uma resposta imunológica bastante duradoura, algo difícil de conseguir em se tratando do vírus da Aids”, observa o professor Enrique Argañaraz.
Agora, os cientistas espanhóis precisam estender os ensaios clínicos. “Os resultados precisam ser analisados com cautela, já que o tratamento só se provou eficiente em 30 voluntários”, ressalvou Felipe García, do Hospital Clínico de Barcelona. “Mesmo que (a vacina) estimule uma resposta potente na maioria dos casos, é cedo para dizer que essas defesas seriam capazes de prevenir uma infecção”, completou.
Outras etapas da pesquisa incluirão a administração do MVA-B em mais participantes e com diferentes dosagens. Outra opção será testar a droga em pacientes que já têm a infecção. Com isso, o remédio seria usado não para prevenir, mas como tratamento alternativo para quem precisa tomar coquetéis diários contra a doença.
As informações são do Correio Braziliense.