Vinte e três dias depois de provocar a maior crise política no governo de Dilma Rousseff, por causa das suspeitas de envolvimento em tráfico de influência e enriquecimento ilícito, Antonio Palocci pediu demissão da Casa Civil nesta terça-feira, 7.
Ele será substituído pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que tomará posse nesta quarta, 8, às 17 horas, no Palácio do Planalto.
Mesmo obtendo um “nada consta” na segunda passada do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sobre todas as acusações que lhe foram feitas pelos partidos de oposição, Palocci não resistiu ao processo de desintegração de seu capital político diante do cerco de aliados.
No final da tarde desta terça, Palocci, o mais poderoso ministro do governo de Dilma Rousseff, entregou a carta de demissão.
Disse que considerou “robusta” a manifestação do procurador-geral da República o que, segundo ele, confirmou a “retidão de suas atividades profissionais no período recente, bem como a inexistência de qualquer fundamento, ainda que mínimo, nas alegações apresentadas sobre sua conduta.
” No final da curta nota, Palocci disse que preferiu solicitar o afastamento por considerar que “a continuidade do embate político poderia prejudicar suas atribuições no governo.
”
Ele não tem mandato de deputado federal.
Ficará longe da cena política por algum tempo.
Foi uma nota protocolar, destas que costumam ser escritas quando um importante ministro sai.
Mas Palocci ficou desprestigiado nos últimos dias.
Logo depois do parecer do procurador-geral, que o inocentou, ele esperava uma afirmação de apoio por parte da presidente.
Mas esta não veio.
Palocci disse a parlamentares com os quais esteve durante toda a terça que não conseguiu desvendar a “esfinge” que é Dilma.
Em nenhum momento ela deixou claro se queria que ele continuasse no cargo ou se saísse.
Entendeu que era para sair.
Na segunda, à noite, logo depois do parecer do procurador, os líderes do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), reuniram-se com Palocci.
Este disse a eles que estava disposto a ir ao Congresso dar explicações sobre o aumento de seu patrimônio em vinte vezes, em quatro anos, fortuna que teria vindo do trabalho de consultoria feito de 2007 a 2010 para cerca de 25 empresas, e que lhe teria rendido R$$ 20 milhões.
Vaccarezza e Henrique Alves levaram a proposta de Palocci à Câmara e começaram a negociá-las em seus partidos e a sondar como a oposição reagiria.
Quando a notícia da saída de Palocci chegou à Câmara, eles estavam negociando a ida do agora ex-ministro ao Congresso, para prestar esclarecimentos.
A presidente Dilma Rousseff também divulgou nota para anunciar a saída de Palocci.
Disse que recebeu dele uma carta com o pedido de demissão, que a aceitou e que lamentou “a perda de tão importante colaborador”.
Ainda de acordo com a nota, a presidente destacou a “valiosa participação de Antonio Palocci em seu governo” e agradeceu “os inestimáveis serviços que prestou ao governo e ao País.
” Foi uma nota sem emoção e distante.
Entre os parlamentares do PT que defendiam Palocci e que anunciavam agora a disposição de formar um bloco em defesa do ex-ministro, ficava sempre uma pergunta: como explicar para a sociedade que alguém tenha acumulado em quatro anos uma fortuna de R$$ 20 milhões e tenha comprado um apartamento avaliado em R$$ 6,6 milhões?
Uma resposta foi dada pelo ministro Gilberto Carvalho.
Não aos parlamentares do PT, mas aos jornalistas que estavam na porta do Palácio da Alvorada, fazendo plantão durante almoço da presidente com senadores do PTB: “A permanência dele (Palocci) vai depender da presidente”.
E Dilma preferiu mudar.
* Fonte: A Tarde